"Sentir-se representado é ,além de bom, um direito."
Luís Antonio Martins Pereira é morador da Restinga desde que se entende por gente. De fala mansa e olhar sereno, ele conta o porquê de sempre "puxar brasa" para o maior Bairro da capital gaúcha.
A Restinga é um bairro periférico da cidade de Porto Alegre que, por decreto de lei, foi afastado. No dia 30 de dezembro de 1965, entra para o campo jurídico a norma de que os moradores de diversas vilas que proliferavam pela cidade deveriam ser transportados 22km longe do Centro da cidade (onde hoje se localiza o bairro).
Luís se mudou para lá em 1971, então com seis anos. A Restinga recebeu apoio financeiro que lhe forneceu água potável e iluminação. Apesar de precários, estes recursos existiam. Em 1977, foi fundada a escola de samba Estado Maior da Restinga, oito vezes campeã do carnaval porto-alegrense.
Luís contava, então, com 12 anos.
Estudou, fez curso de toureiro mecânico e também fez parte do movimento sindical e comunitário da Restinga. Sua formação acadêmica foi na área de História, pela IERGS.
Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde teve seu primeiro filho, e decidiu retornar para os Pampas quando teve o segundo.
Em 1990, depois de algumas batalhas judiciais e esforço por parte dos moradores, a Restinga oficializa-se como bairro de Porto Alegre. De volta para seu bairro de origem em 1995, Luis se deu conta de como enxergava de forma errada a cultura que o cercava:
"Eu entendia cultura como entretenimento. Mas eu nunca havia enxergado a cultura dentro do nosso bairro como um agente de mudança, de inclusão" comenta .
Teve seu primeiro contato de fato com a Cultura do bairro quando trabalhou como produtor do curta "Supertinga", a história de um super-herói da Restinga.
"Porto Alegre sempre vê a cultura de maneira central. Para a maioria dos produtores culturais, não existe espaço para o diferente, para o marginal, para o prosaico. A periferia não existe para a Cultura Porto-Alegrense."
Luís comenta que as atividades culturais que aconteciam na Restinga "praticamente desapareceram".
Os eventos acabam acontecendo, porém com muito menos força do que deveriam.
"O potencial que as crianças, a comunidade de modo geral, têm de fazer Cultura é muita. Falta a visibilidade, o recurso, a oportunidade" conta ele, após comentar que por dois anos foi professor na Escola Prof Larry Jose Ribeiro Alves. "Acabamos deixando muita gente pra trás."
Luís também enxerga que todas essas potencialidades de se fazer cultura são desperdiçadas quando deixa de se investir nelas:
"Tira a bola do Neymar, ele não sabe jogar. É preciso que sejam incentivadas atividades culturais nas escolas, nos centros urbanos, nos bairros."
Depois de três tentativas, conseguiu entrar no Conselho Estadual de Cultura. Agora ele sente que, finalmente, pode fazer sua parte por seu Bairro de infância:
"Hoje em dia, incentivo projetos da Restinga a enxergarem sua potencialidade, sua importância para tanta gente. Estar no Conselho me permite dar outro olhar para esses projetos transformadores" conclui.
A Restinga hoje vibra em culturas, cores e movimentos artísticos diversos.
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