José Mariano Bersch
Fazia tempo que não encontrava minha amiga, a Tolerância. Fiquei surpreso ao vê-la desanimada, abatida, quase irreconhecível! Fui direto ao assunto: - me conta o que está havendo contigo! - Estou indo mal nos negócios - respondeu-me. - Ano após ano venho perdendo terreno para a concorrência. A sociedade está migrando para o mercado paralelo, contratando serviços e consumindo produtos falsificados das minhas concorrentes, a Intolerância, a Impaciência e outras mais “In’s”.
Campanhas e lobbies do tipo “Tolerância Zero” têm exposto minha imagem, dando margem a interpretações ambíguas a meu respeito. Para teres uma idéia, na política estão me substituindo pelo radicalismo ideológico e fisiologismo. Na religião, pelo fundamentalismo e sectarismo. Nas relações político-econômicas internacionais sou parte meramente figurativa. Nos meios de comunicação tenho enfrentado boicotes e, por vezes, formadores de opinião e articulistas de jornais e revistas me subjugam com idéias reacionárias ou conclusões tendenciosas. Nas escolas tenho conseguido divulgação e apoio moral, mas os resultados se dispersam no plano teórico. Nos condomínios residenciais, os síndicos, meus promotores de venda, investem em marketing e fazem campanhas junto aos condôminos, mas os resultados apresentam gráficos de curvas descendentes. Nos estádios de futebol, nas ruas e no trânsito, os resultados vêm sendo catastróficos: quase zero! E, pasme, nas famílias e nos relacionamentos afetivos, o meu mercado em potencial, também lá as pessoas estão indo em busca de soluções “alternativas”, supostamente mais econômicas. Preciso formatar um plano de recuperação imediato para evitar a falência – finalizou minha amiga.
O relato não poderia pintar de forma mais explícita e dramática a crise instalada. Preocupado, me dispus prontamente a engajar-me em campanhas publicitárias do tipo “Tolerância Já”, “Intolerância Zero” ou, talvez, “Tolerância Zero à Intolerância”.
Pessoalmente estou convicto de que a Tolerância é, no perfil de consumo da sociedade atual, item de primeira necessidade. É no convívio familiar e no ambiente de trabalho, na escola, na rua, no esporte e no lazer que ela se torna cada vez mais imprescindível. A atualidade é marcada pelo progresso e por conquistas fantásticas e também por grandes contradições. Um desses paradoxos talvez pudesse ser simbolizado pelas magníficas edificações cada vez mais altas, contrastando com o grau de tolerância cada vez mais baixo nas relações humanas.
Estendo, por isso, o convite a você, caro leitor, a adotar a idéia de que uma dose diária de tolerância facilitará a convivência com as diferenças e permitirá uma qualidade de vida melhor e mais feliz.
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